quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

a viagem


anotações de viagem

A minha viagem ao Pará incluiu, antes do Fórum Social Mundial em Belém propriamente dito, um passeio de 1.500 km, percorridos de ônibus, de Marabá até a capital paraense. Era o Fórum Carajás, uma expedição promovida pela Via Campesina e o MST para mostrar o que chamam de "projeto do povo" versus "projeto do capital" para a Amazônia. O objetivo é demonstrar as diferenças do modo de operação e objetivo social de um assentamento de sem-terra, por exemplo, ao de uma mineradora. Brabeira. Pano pra muitas mangas pra discutir sobre o que é comparável e o que é incomparável, a abrangência de um e de outro projeto, sem falar em balança comercial, PIB, PAC e outros piripaques. Enfim.

A uma certa hora, estava eu olhando para a paisagem da janela do ônibus. Estávamos na PA-150, a alguns quilômetros da famosa cidade de Tailândia (um google básico explica a fama). Até aquele momento, e eu já tinha visto a Floresta Nacional de Carajás, as minas de ferro da Vale em Carajás, o local do massacre dos 19 sem-terra em Eldorado do Carajás (e a inauguração de uma escultura triste e linda pra lembrar os 19 mortos), o assentamento 17 de abril (batizado com a data do massacre), a hidrelétrica de Tucuruí (a maior do País, fora Itaipu) e os mal-indenizados que perderam as casas e os peixes com a criação da barragem.

Dentro da cabeça, os elementos eram esses. Fora, os de uma Amazônia que não existe mais. Ou melhor, do que resta - e vai restar - do que um dia foi uma floresta conhecida por castanheiras que vivem, se deixarem, mais de 500 anos.

A lista do que vi da janela:

- "Madeireira Nova Esperança", intrigante nome de uma das incontáveis madeireiras na beira da estrada.
- pilhas e pilhas de troncos de árvores amontoados, jogados no mato baixo.
- infinitos pastos meio selvagens com capim alto, um ou outro boi, uma ou nenhuma árvore.
- muitos fornos de carvoarias (onde se queima madeira pra abastecer siderúrgicas).
- plantações de eucalipto (mais madeira e mais rápido onde a original já virou carvão).
- placas do "Banco da Amazônia" propagandeando financiamentos a cada porta de fazenda.
- fios de alta tensão acompanhando a estrada (energia gerada em Tucuruí indo servir o Brasil).
- urubus sobrevoando um lixão. Essa cena, só uma vez.

Todas as outras, muito mais vezes do que pareceria razoável.
Mata virgem? Floresta? Araras vermelhas? Só no livro do Araquém Alcântara, na livraria chique mais perto de você.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

significa "lembrança de belém"







hehehe...
quatro dias depois, desbotou mas ainda não saiu.



domingo, 1 de fevereiro de 2009

no fim, o final

Domingão, ao fazer as contas, percebi que em menos de 24 horas estarei dentro de casa. E esta é uma perspectiva encantadora.

Volto a São Paulo com uma pintura kayapó no braço esquerdo, que deve durar alguns dias (é hit do FSM, não resisti, hehe...), com um bloquinho cheio de anotações de histórias a serem contadas no site ou na versão impressa da CartaCapital e, principalmente, com a estranha sensação de que conheci muito pouco deste Brasil tão grande e tão tristemente abandonado à própria sorte.

Bom, desde ontem o clima no FSM, ou melhor, no Acampamento da Juventude, estava em franca transição. Em 2005 também foi assim. Tudo começa hippie-romântico e termina, digamos, punk-sinistro. É quando o cansaço já está bem maior do que a tolerância, a paciência e o bom humor. Claro, sempre tem os animados full time, e isso é lindo. Mas de alguma forma eu fico aliviada da coisa toda durar "só" cinco dias.

Para mim, durou quatro. Depois de passar a noite inteira em um processo involuntário de emagrecimento/desidratação (graças à deliciosa - mesmo! - comida paraense), fiquei confinada em meu quarto de hotel toda a manhã de hoje. Da janela, vi os 5 minutos de sol quente antes da chuva, ela, sempre ela, cair sem parar desde então. O que muda é a intensidade.

Está marcada para 14h30, ou seja, para agora mesmo, a "Assembléia das Assembléias", no campus da UFRA. De lá, disseram, deve sair a Marcha de Encerramento. Deve ser legal, pena que não conseguirei ir.

Começar é bom. Terminar também.