Como é que se faz? Como é que se administra uma coisa assim? Tão maior, tão delicada, tão íntima e ao mesmo tempo tão comum? É íntima porque dói no meu coração ter que passar um sábado e domingo como esse último, de sol tão gostoso, sem poder pensar em ir para a pracinha andar de skate. Ter que olhar praquele céu azulão da janela de casa e, uuuui, se esforçar para não lembrar que a praça lisa e livre já não existe mais. E se esforçar muito para não ficar triste tudo de novo.
A cidade, qualquer cidade, é um lugar difícil mesmo de se viver. Mas algumas exageram. São Paulo exagera
demais. São agressivos, desumanos demais, aqueles bancos de praça com divisórias anti-mendigo, como os da “nova” praça da República. As alçam dividem o banco em três partes individuais: assim ninguém deita, nunca. Não é ridículo? Pô, não é isso que vai fazer o mendigo deixar de existir! Nem a pobreza sumir, nada. Ao contrário, um banco assim afasta o abraço dos namorados, mata a espontaneidade que é a alma de qualquer praça. Intimida a todos. Intimida ao mendigo também. Mas, sorry, ele não vai deixar de mendigar nem de existir por causa disso.
Outra péssima. Aquelas lanças de ferro instaladas em qualquer muretinha ou degrau à tôa por aí. Apenas o suficiente pra ninguém poder sentar. Deve existir um milhão de exemplos, na cidade toda, dessa grotesca engenharia da exclusão. Fica lá a mureta, com 50 centímetros de altura, coroada por lanças de ferro. Na medida certa para não caber o bumbum de quem está cansado, esperando o ônibus, por exemplo. Por que raios?
E não vou nem falar daquela fenda nas grades da portaria dos prédios, aquela violência retangular. Na medida exata para deixar o entregador a uma “distância de segurança” do condômino. Pelo buraco, só passa a pizza. Tem coisa mais paulistana? Mais paranóica? Mais desumana?
PS: A história da pracinha do Alves continua na mesma. Depois da reunião com o subprefeito, nem mais um reles contato, nem mais um nada. Ficou o dito pelo não-dito. E a sensação de impotência diante de um jogo com cartas marcadas. Ouvi que “os moradores estão irredutíveis”. Hein? Quem teria de estar irredutível é o administrador público, a quem compete, repetindo o óbvio, administrar o que é público, pú-bli-co. Alguém ainda sabe o que é isso? Eu queria que todo o mundo soubesse. E que se praticasse mais a urbanidade, a civilidade, o exercício da tolerância, da convivência entre diferentes. Que é treta braba, eu sei, mas não tem jeito não. É inescapável.
segunda-feira, 23 de julho de 2007
tem jeito não
Postado por Phydia de Athayde às 18:39
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3 comentários:
Daqui, deixo minha solidariedade.
acabo de falar na secretaria de esportes, onde mais uma vez não fui atendida pelo walter feldman (o secretário, que nos prometeu resposta em uma semana) e ouvi "fique tranquila" da secretária...
mais uma vez deixei meus contatos, e continuo no aguardo...
Phydia, daqui de Salvador, minha solidariedade.
Há poucos meses apenas, pela primeira vez desde que me lembro (eu tenho 25 anos), inauguraram uma praça de skate pública.
Alguns anos antes, fizeram uma em Lauro de Freitas, região metropolitana. Não demorou a começarem a cobrar comprovantes de residência para quem aparecesse lá com o skate debaixo do braço nos dias de semana.
Imagine o número de skatistas de Salvador que não voltou de lá?
Enfim, aqui ainda há algumas praças, como o Campo Grande, em que se pode andar -- pelas beiradas. Até quando, e com esta pista nova, não sei.
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