sábado, 28 de agosto de 2010

Tááá chegando a horaaaaaaa

Esses dias está liberado todo e qualquer excesso, mesmo aos corinthianos mais polidos, como esta que vos fala. Não é preciso pedir perdão. TUDO NOSSO, MALOCA! É aniversário, um aniversário especial, e a hora é de festa!

Aos amigos, trago boas novas sobre o nosso filme, o "Só quem é Sabe o que é". Este aqui, ó: http://www.youtube.com/watch?v=uQwXT5yAKT0

Depois de muito penar por esse mundão, decidimos que o que mais importa é colocar o trabalho na rua, de graça, pra quem quiser curtir e relembrar o que viveu com o time em 2008, e na vida toda. Ou seja: vamos soltar o filme na íntegra, de graça, na internet!!!

Tá marcado pra essa segunda, dia 30, no fim da manhã... 

Táááááá chegando a horaaaaaaaaaaaaa

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Nelson Rodrigues, se aqui estivesse

(originalmente publicada no Brasil Econômico)

Tá, eu não falei com ele de verdade... Mas que ele respondeu, respondeu!

(clique na imagem para ampliá-la)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Ah, se fosse o Timão...

(originalmente publicado no Brasil Econômico em 06/08/10. Pra hoje tá meio velhinho, mas a sensação é a MESMA...)


Libertadores de rico



Não é por nada. Mas fosse o Corinthians a disputar uma final de Libertadores, o Hemisfério Sul estaria a ponto de explodir. Por mais que os são-paulinos desdenhassem dessa alegria de pobre, brega e exagerada, os corintianos estariam eufóricos, insuportáveis, repetindo a quem quisesse ouvir que, agora, chegou a NOSSA vez! Só com o Corinthians, só por causa da Fiel, só graças às mandingas de cadamaloqueiro em particular, só a nossa conquista seria inesquecível. A maior. A mais heroica. A mais... Opa! Dormiu no sofá? Então acorda pra ver os outros jogarem. Acorda e vá se acostumando à dureza de assistir — e secar — alegrias e batalhas alheias. Outras. De Santos, Vitória, São Paulo, Inter. Decisões que não lhe dizem respeito. Festas para as quais não foi convidado.


Do lado de fora do salão, o pobretão apenas espia, dividido entre o desdém, aquele mentiroso dar de ombros que sóquemperdeu algo que queria muito sabe fazer, e a coragem de assumir que queria estar lá. E, como no doce tirado da boca vinha escrito "Libertadores", desce ainda mais amarga a notícia de que, com a ida do mexicano Chivas à final, o vice-campeão dessa edição disputará o Mundial enquanto americano do Sul). Pô! Tava fácil! É, tava mas não rolou.


E mais.O Centenário chegou. Todos os dias o Corinthians me manda e-mails anunciando mais um imperdível “caramba-a-quatro-do-Centenário”. Não quero. Não quero o cinzeiro, a caneta, a almofada, a caneca, a milésima segunda camisa “oficial do centenário”. Queria é mantida a liderança do Brasileiro. Algum indício de que o time não vai sumir pela janela (de transferência). Uma saída de respeito pro Felipe. E que alguém dissesse ao Ronaldo que tudo bem ele ajudar o time só no apoio moral. Na real, queria um Centenário diferente dos “Sem-Ter-Nada” de Flamengo, Botafogo, Grêmio, Galo e Sport. E melhor que os de Fluminense, Inter e Vasco. Quer dizer, o Vasco ganhou a Libertadores (ó o assunto voltando...). Queria gritar Timão de boca cheia. Que nem pobre.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Grace Gianoukas e a Terça Insana


(originalmente publicada no Brasil Econômico 13/08/10)

Uma comédia de acertos

Há nove anos a Terça Insana, que é quase o sobrenome da atriz Grace Gianoukas, faz rir e pensar. Agora, o show volta à velha casa, em Pinheiros, SP



TEXTO Phydia de Athayde

Segunda-feira, para um ator de teatro, costuma ser o dia de folga depois do fim de semana de trabalho. Há nove anos, para o elenco do Terça Insana, segunda é só o intervalo entre a turnê e a apresentação “em casa”, na capital paulista. Esta, porém, é especial. Véspera de estreia. Ou melhor, da volta deste espetáculo que é um clássico do humor paulistano (e muito copiado) para o endereço que o consagrou, em Pinheiros. No mesmo bairro, em um prédio comercial fica a sede da produtora. Da portaria já é possível ouvir a voz grossa de Grace Gianoukas ao telefone. Não há como errar de sala. Ao me ver, ela abre um sorriso de Aline Dorel  personagem que é hit entre as esquetes presentes neste A Volta dos que Não Foram.

“A cada semana fazemos um show novo. Este é um tema atípico porque é um grande pout-pourri. Mas, em outubro, teremos um novo tema: Politicamente ou Correto?”, diz Grace, que dirige, atua e incentiva que o ator seja também o autor de suas falas. “Claro que estou ansiosa. Já revi todo o texto, preparei a trilha, agora quero colocar os ossos desse esqueleto no lugar”, diz, sempre ofegante, sempre jogando os cabelos para um lado e para o outro, sempre brincando com um cigarro apagado — ou fumando. Logo o papo entra no humor. “Não tenho obrigação de ser cômica o tempo todo. O humor pode ser irônico, sarcástico, desde que seja interessante e original.” A espetada tem endereço: “O que a gente vê na TV é o bullying, o humor juvenil, sem maturidade. Um humor que tem medo de não ter audiência”.

Mais tarde, Grace, elenco e técnicos se reúnem no Estúdio Emme para acertar músicas e luz de acordo com as cenas (são 14 no total). Não é um ensaio completo. O_centro da plateia está vazio, tem só uma mesinha, de onde a diretora e a produtora (que faz uma ponta) Luciane Adami acompanham as cenas.

“Pessoal, quem passar aqui, cuidado com esses dois fiozinhos. Um derruba uma pistola, outro faz um vestido voar”, avisa Arthur Kohl, atrás da coxia. “Hei, você acha que eu posso dar uma cambalhota com o microfone headset?”, Renato Caldas inquire o técnico de som. “Posso mesmo falar daquele russo da skavuska, né?”, confirma Agnes Zuliani. Mila Ribeiro refaz algumas vezes os passos do “flerte” com um contra-regra.

Arthur, Renato, Agnes e Mila são o elenco fixo — que por tradição é sempre renovado e já teve Luís Miranda, Marco Luque e Marcelo Mansfield, entre outros.

Grace dá sugestões, sempre boas, ri das cenas e também passa as suas. Não dá para não rir. A mulher é um monstro.

Na estreia, assisto a um outro show. Engraçado que algumas cenas funcionaram melhor no ensaio. Engraçado eu achar graça de outras, mesmo sem explodir de rir. Engraçado rever piadas que não sabia terem nascido aqui. Engraçado eu ir pra casa pensativa. Ou será insano?

TERÇA INSANA - ESTÚDIO EMME
AV. PEDROSO DE MORAES, 1036
$50 A $70. TEL (11) 3031-3290

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

entrevista com Shirley Mallmann



(originalmente publicada no Brasil Econômico, de 30/07/10)


“Meus filhos me abriram um outro mundo. Hoje o trabalho é um trabalho. Não é mais a minha vida”

texto Phydia de Athayde

ABRE:

Olhe bem para a mulher ao lado. Repare no azul dos olhos, no formato da sobrancelha, do nariz e da boca. No tom da pele. No tamanho das pernas, dos braços, e na proporção que formam com o tronco. Agora olhe-a de cima a baixo, num golpe só, e diga se não achou a roupa linda. Ou se não desejou estar neste sol, bem perto dela. Seja homem ou mulher, não há como escapar de uma fera em seu habitat. De Shirley Mallmann diante de um fotógrafo. Da beleza diante do resto do mundo. É o que somos. Rendidos, a admirar, sonhar, suspirar. A não ser que alguém esteja de TPM, aí logo encontrará um defeitinho. A moça é ossuda, meu Deus do céu. Tem algum osso aí? Pois ela própria os vê, e só recentemente aprendeu a se sentir bonita “apesar” deles.

Shirley Mallmann, a quem possa não saber, foi a primeira top model brasileira. Tudo bem que Dalma Callado agitou os anos 70, mas só os 90 teriam como fazer de um rosto, um corpo, este objeto de trabalho, algo onipresente no planeta. Nas capas das revistas de moda (do naipe “todas as Vogue”), nas propagandas de perfumes chiques (Classique, de Jean Paul Gaultier, e Allure, da Chanel), nos desfiles mais hot possíveis (Dior, Valentino, Prada, todos eles). Mallmann foi a primeira a experimentar algo que só a também gaúcha Gisele Bündchen viria a superar. E “isso é superbacana”, diz uma muito tranquila Shirley, do alto de seus 33 anos.

Ela está mais bonita que aos 17, quando saiu de Santa Clara do Sul para tentar a vida de modelo em São Paulo. E que aos 19, quando encarnava à perfeição o ícone de então, a muito magra e meio andrógina heroin chic

Shirley desembarcou do avião em Nova York com um motorista particular a esperando. Não falava inglês, mas se virava no alemão de casa, ou melhor, do sítio onde cresceu. Meteórica, foi do aeroporto para o estrelato fashion. Viveu todo o roteiro de conto de fadas que alimenta as milhares de meninas que até hoje se estapeiam em concursos de beleza mundo afora. Como em Cinderela sempre há uma madrasta ou algo mau à espreita, ela se jogou na vida louca dos backstages e festas de modelo, onde “te oferecem de tudo”: isso, aquilo, aquilo outro e aquilo outro também.

Depois de alguns anos nessa balada, “eu não tinha uma vida”, encontrou no amigo cabeleireiro (e surfista) a ligação com o mundo real, aquele do qual chorava de saudades ao telefone. Ao lado de Zaiya Latt, ela aprendeu a praticar wakeboard, snowboard e maternidade. Eles têm dois filhos, Axil e Ziggy, e vivem em Long Island, a duas horas de Manhattan. Depois de anos fora das passarelas, Mallmann desfilou em Nova York e abalou a última São Paulo Fashion Week. Já de volta à sua casa de praia, concedeu por telefone a atenciosa entrevista a seguir. Sua voz é grave. E linda.

ENTREVISTA

Como é sua rotina de trabalho?
Tenho muitos clientes de catálogo. O que paga as contas são os catálogos. Clico em dois ou três dias seguidos, em Manhattan, que posso ir de dia e voltar à noite, ou viajo para outro lugar. Acontece duas a três vezes por mês. Isso fora as viagens ao high fashion, que são os editoriais, desfiles. Como quando vim para o São Paulo Fashion Week (SPFW) e fiquei quatro dias. Foi engraçado, superdivertido, adorei.
Cheguei no dia do desfile da Adriana Degreas e fiquei os próximos quatro, desfile todos os dias, foi uma correria.

Essa agitação recente é algo que você buscou ou aconteceu?
Um pouco dos dois. Fiz um desfile em fevereiro (abriu a Semana de Moda de Nova York, para John Bartlett). Estava sem desfilar por causa dos meninos (os filhos Axil, de 8 anos, e Ziggy, de 2). É difícil ficar vários dias fora, mas depois desse desfile surgiram os convites do SPFW. Para mim é legal. Em primeiro lugar, é o meu país, adoro trabalhar no Brasil. Algo que gostei e, ao mesmo tempo, é bom para a carreira também. O desfile é uma vitrine para a modelo, então é bacana fazer, mas tenho que estar pronta para a batalha porque é uma correria.

Você vai voltar com tudo ou fazer apenas alguns trabalhos?
Quero fazer poucas e boas coisas. Não tenho condições de voltar àquela
loucura. Por mais que tenha sido incrível, que tenha gostado, passou. Não sou mais aquela menina. Minhas prioridades mudaram. Claro, a carreira é bacana, adoro o que faço, mas seleciono os trabalhos porque preciso balancear isso com a minha família. À medida que fui ficando mais velha, curtindo meus filhos, eles me abriram um outro mundo. Me tornei mãe, dona de casa. Somos quatro pessoas, somos uma família. O trabalho é um trabalho. Não é mais a minha vida.

Para entender melhor tudo isso a gente tem de voltar no tempo. Você estourou em 1996, poucos anos antes da Gisele Bündchen. Como viu a ascensão dela?
É algo que ia acontecer. Era questão de tempo vir outra menina do Brasil e estourar. Mas a Gisele estourou como nenhuma outra, foi incrível. Isso é superbacana.

Depois dela o Brasil definitivamente entrou na moda?
Todo o mundo já estava de olho no Brasil, tanto que a Gisele é de uma leva de meninas brasileiras. Ela se destacou entre várias que trabalharam superbem. No Brasil já estava acontecendo o SPFW,o (Carlos) Miele já estava aqui, o (Alexandre) Herchcovitch, os biquínis (da Rosa Chá) já estavam aqui, a Vogue Brasil já estava entre as grandes Vogues. O Brasil já estava acontecendo. A Gisele só deu mais um empurrão.

Essa onda de Brasil vai passar?
O Brasil está consolidado no mapa da moda. Não é uma febre que vai passar. Fazemos parte do grande circuito mundial. Temos grandes estilistas, grandes modelos, grandes marcas, grandes fotógrafos, grandes revistas. O Brasil cresceu muito como país nos últimos 20 anos, e a moda é parte disso.

Então vamos falar da sua participação nessa história. Você veio do Rio Grande do Sul para São Paulo com 17 anos. Até quando conseguiu estudar?
Fiz vestibular para contabilidade em uma faculdade federal, mas não passei (risos). Meus pais não tinham dinheiro para faculdade particular. Terminei o colegial e fiquei aquele ano trabalhando em uma fábrica de calçados. Nessa idade a gente não sabe direito o que quer da vida. Aí surgiu a oportunidade de fazer alguns trabalhos de modelo em Porto Alegre. Os convites foram vindo, fiz alguns desfiles, fui ganhando roupa, uma graninha. O salário mínimo era uns cento e poucos reais, o que eu ganhava na fábrica, e lembro que com um comercial de TV ganhei R$ 400. Aquilo me entusiasmou a tentar. As agências diziam que eu tinha que ir para São Paulo. Estava com 17 anos e fui.

Que lembranças tem desse período?
Estava superentusiasmada, achava que seria o máximo, mas a realidade não foi tão glamourosa. Eram oito meninas dividindo um apartamento que não era bacana, não tinha telefone, só um bipe para todas. Tocava o bipe, todo mundo corria e uma ia até o orelhão (risos). Nossa, foi difícil. Eu não tinha dinheiro, ninguém tinha dinheiro, a gente não ganhava nada da agência.

Faltava comida?
Sim, porque tinha que dividir o dinheirinho, era muito pouco. Ou eu almoçava, ou jantava. Alguns restaurantes tinham convênio para receber grupos de modelos. Eu tinha que ligar e pedir para ser posta na lista das que iam almoçar nesses restaurantes (risos). Era difícil.

Como foi sair do Brasil?
Fiz alguns trabalhos que geraram uma graninha, saí do apartamento
das modelos e fui morar em um flat, mas logo depois fui para o exterior. Muitas vezes as meninas vêm para cá (os EUA) testar, ver como o mercado as recebe. No meu caso, como tinha trabalhado com uma fotógrafa muito famosa, a Ellen Von Unwerth, ela foi a madrinha que me tirou do Brasil. Uma semana depois de me fotografar, me chamou para fazer a Vogue America, em Nova York. Isso raramente acontece. Você lá do Brasil, sem ninguém te conhecer, ser bookada (chamada) para um editorial da Vogue America...

É sorte?
Olha, é uma luz, viu? Difícil de explicar. É cair nas graças da pessoa certa, que tem o poder de falar “eu quero essa modelo” para a VogueTambém é ter o look certo naquela hora. Era o finalzinho da era das grandes modelos e fui trazida do Brasil como a próxima promessa. Uma coisa montada, sabe? Pelos agentes, pelos fotógrafos, pela Vogue. Eles fazem isso. Literalmente, desci do avião, nunca tinha pisado em Nova York, não falava inglês, e já tinha um motorista esperando. Cheguei na agência, o dono (Paul Roland, da agência Women, referência nos anos 90) cortou meu cabelo, me levou para fazer shopping, a um cabeleireiro para retocar minha cor, me montou inteira, bateu duas fotos e me mandou para a Vogue. Ele me mudou inteira.

Você estava pronta para o que veio?
Ninguém está preparado. Saí do Brasil com uma passagem na mão, sem muito dinheiro, sem referência. Todo mundo estava esperando para ver o que ia acontecer. 

Podia ter dado errado...
Claro, a Vogue podia ter dito: “Ellen, você está louca” (risos).

Desde o início você tinha segurança para posar ou aprendeu aos poucos?
Isso é algo que se tem naturalmente. Eu não sabia que tinha. Desde a minha primeira foto, gostaram de mim, falaram que eu era uma grande modelo, que tinha de continuar. Isso com certeza é sorte e, não quero falar que é natural, mas é. Ou você está confortável na frente da câmera ou não está. A partir da semana que cheguei, e me considero muito sortuda nisso, trabalhei com todos os grandes fotógrafos, exceto o Irving Penn. Peter Lindbergh, Patrick Demarchelier, (Richard) Avedon, (Steven) Meisel...

Como se virava sem falar inglês?
Com a Ellen, falava alemão. Com o Peter, também. Com o Patrick, não falava nada, que ele era francês (risos). Mas conheci um espanhol, o Raul, que estava em todos os castings (seleção de modelos) e me ajudava, era um fofo. Em seguida fui bookada para uma campanha da Dolce Gabbana com o Steven Meisel. Não sabia quem ele era. Para mim, só mais um gringo que eu não conhecia. E quem estava lá? O Raul. Ele era o braço direito do Meisel, que, depois disso, se tornou outro padrinho meu. Me bookou para ser capa da Vogue Itália, todas as Vogues. Fotografar com ele põe o nome de uma modelo em um outro nível.

E como era quando você não estava trabalhando?
Muita solidão. Não conhecia ninguém, não tinha amigos. As meninas que moravam comigo, uma inglesa e uma jamaicana, eram gente boa. Mas a roommate delas estava fazendo tudo que elas sonhavam, então elas me marcaram como alguém de quem não gostavam. Eu ligava chorando para o Brasil. Todos os dias. “Não quero mais ficar aqui, Vogue America que se dane, quero ir para o Brasil, tô com fome, tô sozinha, quero ir embora” (risos). Uma vez, no aniversário da minha irmã, todos os meus amigos do Rio Grande do Sul fizeram uma festa e me ligaram. Foi a pior coisa que podiam ter feito. Chorei tanto, tanto.

E que tal o lado bom dessa vida, os bastidores dos desfiles, as festas?
Hoje em dia cortaram muito isso. A lei caiu em cima, o que é uma coisa boa, porque era uma loucura. A maioria das meninas é menor de idade. A gente chegava e o backstage era realmente uma festa. Champanhe, isso, aquilo, comida, fotógrafos te badalando, convites para sair, para isso, para aquilo, sabe? É complicado para uma menina. Você quer aproveitar tudo. “Que legal, vou poder ir ali, aqui, vou conhecer tal e tal pessoa”, “Hoje vi a Madonna, meu Deus do céu”. Isso aconteceu. Quando a vi, fiquei uns cinco minutos só olhando para a mulher. Mas coisas assim aconteciam todos os dias. Claro que tem uma exuberância,
uma adrenalina, mas aquilo tudo era surreal, não era a minha vida. Eu voltava sozinha para o apartamento e ligava para casa. No dia seguinte, era aquela loucura de novo.

Sentia-se entre dois mundos?
Aquilo não era eu. Nunca consegui cair confortavelmente naquela loucura, ficar naquilo. 

Deve ser muito fácil se perder, abusar das drogas...
Tive sorte por ter 19 anos. Não que estivesse madura, mas não tinha 14. Tive uma formação, uma família boa. Isso ajudou muito.

Como aconteceu sua gravidez, não planejada, aos 24?
Tinha conhecido meu namorado, que hoje é meu marido (Zaiya Latt). Ele era cabeleireiro e o conheci num desses backstages malucos. Por dois anos fomos amigos. O Zaiya é de Long Island (onde ela mora hoje, a 2 horas de Manhattan), da praia, e saía desse mundo louco para surfar. Ele tinha 28 anos e eu, 21. Quando o encontrei, pensei: “É você que estou procurando”. E ele começou a me tirar de Manhattan, me levar a restaurantes bacanas, a boates que não eram aquela loucura, uma coisa mais normal. Comecei a aproveitar a vida. Desde minha chegada, só tinha trabalhado e vivido a vida louca. Começamos a sair com os amigos, ir a barzinhos, assistir um filme, acampar, fazer snowboard. Fazer uma vida. Alugamos um apartamento e, dois anos depois, engravidei. Queria um pouco mais de rotina, de tempo para mim.

Chegaram a se casar?
Quando o Axil tinha 9 meses a gente se casou no Brasil, numa igreja lá no Sul, na minha cidadezinha. Depois voltamos para cá e casamos no civil.

A maternidade a fez dar essa parada profissional?
Para, né? A vida muda. Não sabia o quanto. Quando o bebê nasceu, achei que poderia levá-lo comigo. Todo mundo tinha cachorro, achei que podia levar um bebê (risos). Não tinha ideia do que era a vida com uma criança. Depois que o Axil nasceu, fiz alguns desfiles, um especial para a Dior, um para o (Alexander) McQueen, uns dois ou três em Nova York. Desde que ele tinha três anos, não desfilei mais. Engravidei do Ziggy, tive o Ziggy, e não estava pensando em voltar. Mesmo hoje, não poderia voltar completamente, fazer todo o circuito.

Em que você se envolveu nesse período, além da maternidade?
A gente viaja bastante. Essa vida na praia é algo que eu sempre quis. Compramos um barco maior, faço wakeboard. No inverno, snowboard. Comecei a ler mais, a cozinhar, a receber mais os amigos e a viajar mais para o Brasil. Quando venho para cá, fico no Sul porque quero que meus filhos passem cada minuto com meus pais, eles são os únicos netos (Shirley é mais velha de três irmãs). O Ziggy só fala português, porque a babá é brasileira, e o Axil fala com sotaque.

Você disse que “agora se acostumou” com seu corpo. O que não gostava nele?
(Suspira) Sou magra, sou ossuda, não sou uma mulher normal (risos). Cresci no Brasil, minhas amigas tinham curvas, eram consideradas mulherões, e eu sempre aquela coisa meio alien. À medida que fui ficando mais velha comecei ficar mais confortável com o fato de que meu corpo é diferente. Me aceito como sou e me acho bonita.

Você manteve o peso que tinha antes dos filhos?
O corpo mudou de formato, mas o peso é o mesmo, 57, 58 (quilos). Até  hoje tenho esses ossos para fora, mas meu peito diminuiu, e minha cintura aumentou um pouquinho. Mudaram as proporções.

Tem celulite?
Tenho celulite (risos)! Toda mulher tem. Mas não tenho muita, e as estrias são mínimas, ficam embaixo da linha do biquíni. Acho que Deus me ajudou nessa (risos).

Você fez ou pretende fazer plástica nos seios depois de ter amamentado dois filhos?
Não. Nem cogito, não é algo que queira. Nunca fui peituda, mas depois de amamentar dois meninos, meu peito diminuiu. Faria tudo de novo (amamentar). Essa é uma questão muito pessoal. Me gosto assim. Não me importo de ter peito pequeno.

Ainda sobre corpo, no Brasil chegou-se a ameaçar pesar as modelos antes para impedir que anoréxicas desfilassem. O que acha disso?
(Suspira) Ah, é difícil opinar. A modelo é um manequim, o trabalho dela é mostrar a roupa do melhor jeito possível e realmente na mulher magra a roupa não gruda, não puxa. Existe um padrão de medidas e, se estiver dentro dele — quadril de 88 a 90 centímetros, cintura 59 a 60 e busto, uns 88 — a modelo está bem. A menina alta e ossuda tem que ser mais magra e aí está o problema. As agências, os clientes, falam para ela emagrecer, e se ela não tem orientação, fecha a boca e começa
a ficar anoréxica, a sofrer bulimia...

Você já teve algum tipo de problema alimentar?
Não, mas já fiz dieta. Quando saí do Brasil minha dieta era baseada em legumes, salada e proteína. No começo da minha carreira, caí naquilo do heroin chic. Eu era o look típico: muito magra, muito branca, uma cara andrógina e meio de anoréxica, sabe? Aquilo foi um boom. Por dois anos fiquei daquele jeito porque era como queriam.

Você se sentia bem?
Era difícil, mas a gente acostuma. Não que eu comesse mal, só não comia açúcar nem pão, e pouquíssima gordura. Não se pode viver assim para sempre, mas funcionou para aquela época.

Comemorou quando passou a moda?
(Risos) Logo depois comecei a comer carboidrato, meu corpo deu uma
acalmada, e engravidei.