quarta-feira, 28 de julho de 2010

Kassin


(originalmente publicado no Brasil Econômico, em 02/07/10)

Magnetismo para a boa música

O produtor musical Kassin, um dos mais férteis e plurais em atividade, está — além de outros mil lugares — por trás da trilha do espetáculo Ímã, do Grupo Corpo, que retorna a São Paulo 

texto Phydia de Athayde

É coisa boa com coisa boa. Aproveite que o espetáculo Ímã, do Grupo Corpo, volta a São Paulo para prestar atenção em Kassin, o artista e produtor musical que está por trás da trilha sonora do trabalho, composta por ele e seus parceiros no grupo +2, Domenico Lancelotti e Moreno Veloso. 


Mas, antes de seguirmos, não vá dançar e perder o Grupo Corpo. A companhia de dança comemora 35 anos de carreira este ano e reapresentará Íma (de 2009) e o espetáculo Lecuona. A dobradinha fica em cartaz de 11 a 15 de agosto, no Teatro Alfa, na capital paulista. Falta mais de um mês, mas compre
logo o ingresso, porque eles acabam muito rápido.

Quando os bailarinos do Corpo começarem a pulsar no palco, atraírem-se e repelirem-se ao sabor de uma
música meio bossa, meio moderna, um tanto indescritível, saiba que eles interpretam com músculos os
impulsos neurais da mente criativa de Kassin e seus amigos. Essa trilha foi um dos últimos trabalhos do
grupo +2, que está inativo no momento, mas só porque os seus integrantes estão bastante hiperativos.

Alexandre Kassin, este carioca de 36 anos, por pouco não despreza o jogo do Brasil contra o Chile. “Se eu
estivesse sozinho, não assistiria”, confessou, justificando a fama de certinho e trabalhador, numa conversa por telefone com o Outlook. Ao fundo, alguém tocava um orgãozinho, insistentemente. “Ah, é o Donatinho (filho de João Donato). Estamos fazendo o próximo disco da Vanessa da Mata”, diz ele, diretamente do lugar  onde mais gosta de estar: o estúdio. “É o meu grande prazer.”

Ao lado de Mario Caldato, Kassin produziu o premiado álbum Sim (2007), de Vanessa da Mata, eleito um
dos melhores daquele ano, e dela também o Multishow Ao Vivo (2009).

Este ano, já trabalhou com Marcelo Jeneci e Thais Gulin e, depois de Vanessa, vai dedicar-se a fazer trilhas. Como é de se esperar de um produtor talentoso, Kassin está em muitos lugares ao mesmo tempo. Nos créditos de álbuns de artistas como Adriana Calcanhotto, Jorge Mautner, Los Hermanos, Thalma
de Freitas e, além de Vanessa da Mata, Mallu Magalhães. Não só como produtor, mas frequentemente como arranjador e instrumentista também (ele toca quase tudo). O próprio explica as mudanças ocorridas na sua profissão. “Nos anos 70, o trabalho do produtor era mais segmentado, ele era pouco arranjador.
Hoje, como tem menos pessoas trabalhando num disco, e eu acabo tendo muitas funções: gravo, toco, arranjo, organizo o processo.”

Kassin começou a trabalhar com música nos anos 90, o que, em termos de tecnologia, é uma eternidade e meia para trás. “Peguei o fim da gravação em fita, até a digitalização total. Lembro que custava US$ 200 para gravar 15minutos. Era caro, ficava muito mais difícil brincar. Não se podia experimentar, coisa que eu amo”, diz, para então tentar definir o que faz um bom produtor. “É aquele que consegue chegar onde o
artista quer, onde ele está melhor. O trabalho tem que ter coerência do começo ao fim para aquele artista. Se, no final, o que eu tiver feito não for algo que o artista vá representar, não vale. Um disco não ganha vida por si só, mas pelo que o artista é.”

Da teoria à prática, diga-se, Kassin conhece bem o palco. Antes do +2, integrou a banda Acabou La Tequila. E é guitarrista da Orquestra Imperial. Tem feito shows apenas como Kassin, com Domenico, Donatinho e Alberto Continentino. “Minha música não é para multidões, é de difícil compreensão”,
diz, tranquilo quanto a isso.

Antes de se despedir, dá um recado bem humorado: “Por mais que digam isso, eu nunca produzi , do Caetano. Nem Marisa Monte”. Pior para eles.


Nenhum comentário: