É noite de quinta-feira e, num intervalo do fechamento (dia em que ficamos até mais tarde para finalizar a revista) da CartaCapital, aproveito para mandar este post. Ainda estou impressionada com os desdobramentos deste blog, deste grito tão chorado que fiquei na dúvida se seria bom ou não mostrar para tantos desconhecidos. Arrisquei e vejo, com alegria, que não foi tão má idéia.
A questão da pracinha me mostrou que muita gente também se sente oprimida na cidade. Sem lazer, sem lugar pra respirar, sem lugar pra simplesmente estar – e não apenas passar, de carro com vidros fechados. É muito bom encontrar e ouvir histórias parecidas, embora a maioria de final triste, sobre lugares públicos que significaram muito na vida das pessoas. E é da vida encontrar quem ache que rua é só para carro, que skatistas atropelam crianças, que todos os milhões de paulistanos deveriam se espremer no Ibirapuera, enfim. Coisas que eu não concordo, mas entendo, embora ache que quem não gosta de gente na rua deveria, solenemente, mudar-se para um condomínio fechado, daqueles cercados de grades e com seguranças para jogar o farolete em quem se meter a besta de ficar ao ar livre à noite (nem que seja pra namorar ou procurar estrelas).
Esta pracinha, a do Alves (Horácio Sabino), tem a sorte de mexer emocionalmente com muita gente. Com a repercussão do blog pude saber que nem todos os moradores concordam com a obra anti-skate, que existe comunidade no orkut mobilizada, que está rolando uma organização para reuniões com a subprefeitura, enfim, que talvez haja uma chance da situação ser revertida.
É engraçado. Sou jornalista e, inicialmente, não tive vontade de fazer uma reportagem contando o que aconteceu. Um receio de que, ao reportar, eu tornasse a coisa definitiva. Um índio com medo de perder a alma para a máquina fotográfica. Mas agora já está passando. Porque tristeza e medo passam, quer dizer, é mais fácil passarem quando se descobre que não se está tão sozinho. Que tem mais gente percebendo a cidade nos fugir das mãos, e querendo gritar parecido. Isso é muito legal.
Ainda não sei no que vai dar (o blog, a pracinha...). Mas já posso dizer que gostei de descobrir, logo na frieza e impessoalidade da internet, uma réstia de luz tão bonita. Caramba, “réstia” é muito Alceu Valença, né? A dele é de sol. A deste blog é que luz.
Porque o sol de verdade continua, lá fora, na pracinha.
quinta-feira, 28 de junho de 2007
réstia
Postado por Phydia de Athayde às 19:53
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8 comentários:
E diria ainda que ainda bem que o sol continua la fora, e nos incentiva a viver, a acordar cada dia, abrir a janela e soltar um sorriso.
Isso que fasso toda manhã para passar o dia feliz. E isso que fasso cada vez que aparece um problema.
Um sorriso nao para esquecer o problema, mais para incentivar-me a resolvelo.
Acho que vou abrir um blog tamén.
Só não sei para quem e nem o que escrever.
choro junto de voce phy
mesmo estando aki em minas e ainda sem conhecer a pracinha
ja enviel meu email para prefeitura
juntos venceremos em prol de um apogeu.
abraços
Olá...
Aqui na Revista TRIBO SKATE também estamos indignados com a arbitrariedade excessiva de algumas pessoas....frustradas, é a melhor palavra!!
O que pode deixar mais frustrada essas alminhas infelizes é que logo descobrirão que o skate não tem limites e não será este ato infame que vai tirar a liberdade da galera do carrinho.
Tenho uma sugestão...vamos fazer um campeonato de downhill slide (prática de skate que consiste em descer ladeiras com manobras de slide) na pracinha...Imagina só a reação destes "Ilmos. Zé Manés", perante uns 100 skatistas dropando a ladeira da pracinha!!??
Vou enviar o email pra subprefeitura.....aguuuura!!
No mais...achei muito bacana vc. ter abraçado esta causa. Congrats!!
Bjs
MUITAS VEZES ENXERGAMOS LUZ NA ESCURIDÃO, MAS NÃO É A PRAÇA, NÃ´É A RUA, NÃO FOI ISSO QUE ESTRAGARAM.
SIMPLESMENTE ACABARAM COM TODA A UNIÃO DO ESPORTE, PORQUE ANDAR NO ALVEZ NÃO É SOMENTE PRATICAR UM ESPORTE, NÃO É DESCER UMA LADEIRA, É FAZER AMIGOS, CRIAR RAIZÉS ASSIM COMO NÓS CRIAMOS. TALVEZ A LADEIRA VOLTE A SER O QUE ERA TALVEZ NÃO. NÃO IREMOS PARAR DE ANDAR DE SKATE ISSO NÃO ARRUMAMOS OUTRO LUGAR MAS NENHUM VAI SER COMO O ALVEZ LÁ DEIXAMOS NOSSAS AMIZADES, NÃO QUE NÃO PUDESSEMOS LEVALÁS A DIANTE , MAS LÁ A CADA DESCIDA UM NOVO CAMINHO SE ABRIA, UMA PORTA PARA FUGA DA CIDADE DO STRESS DO TRABALHO.
ESSE É O ALVEZ QUE EU CONHECI E ESSE LEVO COMIGO A TODAS AS LADEIRAS QUE VOU POR MAIS QUE ESTEJA SOMENTE EU E MEU LONG DESCENDO NO MEIO DOS CARROS.
Vai se acostumando, Phydia. Na história de todo skatista, sempre pinta um bocado de incompreensão, revolta e evolução. Tudo passa, até os picos vem e vão - só o skate continua na alma. Que você ache uma nova ladeira maneira pra dropar bem em breve...
Phydia, Segue abaixo a reclamação que fiz para subprefeitura de Pinheiros. Sou solidário, tenho 30, sou advogado e também gosto de skate. Beijo, Hussein "A obra anti-skate feita na praça é Horácio Sabino, feita pela Subprefeitura de Pinheiros é uma afronta a liberdade individual dos moradores da região. Em um cidade onde não temos mais onde levar as crianças, ou mesmo ter lazer, a subprefeitura acaba com uma das poucas atividades esportivas que ainda se podia praticar nas ruas. Por que ao invés de fazer esta obra para afastar os garotos da praça, não se reforça o policiamento com a Guarda Civil Metropolitana. Desta forma seria possível "manter a ordem", sem violência e trazendo segurança, inclusive para as pessoas que alí andavama de skate, que caso o SubPrefeito e o Prefeito não saibam, é um esporte."
E a praça está ficando famosa. Pouco tempo atrás esta causa morreria com a indignação de poucos, no esquecimento de alguns. Hoje uma voz solitária é ouvida, num piscar de olhos, por uma massa sedenta de informação e ávida por mudanças. Phydia, se me permite, tenho uma sugestão a fazer: como morador do bairro e assinante da revista, seria muito bom ver suas palavras na sessão Brasiliana da Carta Capital. O tema é relevante e a causa é nobre. Isto é possível? Também deixo aos leitores do blog outras duas "atividades" relacionadas ao bairro: aos sábados no colégio Alves Cruz, vizinho da praça, acontece um workshop de Maracatu. Isto mesmo, alguns paulistanos batem em alfaias (tambores) e reproduzem um cenário típico das ruas de Recife. Acontece no colégio, de graça, para qualquer um que chegar e se dispor a aprender algo diferente. Todo sábado das 15h as 17h. Também como atividade cultural, na rua Alves Guimarães bem próximo ao colégio, tem o bar da Dona Maria. Ela ficou conhecida depois da gravação do DVD da Ana Carolina/Seu Jorge (também morador do bairro). A dica é tomar uma cerveja irritantemente gelada e bater um papo com a Maria: são 43 anos de bairro. O paralelepipeto é mais uma estória das inúmeras que Dona Maria conta com amor, desde a época dos bondes da Teodoro Sampaio. Enfim, tentam calar o skate, em vão. Outras manifestações hão de surgir debaixo de muito nariz.
Você escreve bem e por uma boa causa. Parabéns!
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