A minha viagem ao Pará incluiu, antes do Fórum Social Mundial em Belém propriamente dito, um passeio de 1.500 km, percorridos de ônibus, de Marabá até a capital paraense. Era o Fórum Carajás, uma expedição promovida pela Via Campesina e o MST para mostrar o que chamam de "projeto do povo" versus "projeto do capital" para a Amazônia. O objetivo é demonstrar as diferenças do modo de operação e objetivo social de um assentamento de sem-terra, por exemplo, ao de uma mineradora. Brabeira. Pano pra muitas mangas pra discutir sobre o que é comparável e o que é incomparável, a abrangência de um e de outro projeto, sem falar em balança comercial, PIB, PAC e outros piripaques. Enfim.
A uma certa hora, estava eu olhando para a paisagem da janela do ônibus. Estávamos na PA-150, a alguns quilômetros da famosa cidade de Tailândia (um google básico explica a fama). Até aquele momento, e eu já tinha visto a Floresta Nacional de Carajás, as minas de ferro da Vale em Carajás, o local do massacre dos 19 sem-terra em Eldorado do Carajás (e a inauguração de uma escultura triste e linda pra lembrar os 19 mortos), o assentamento 17 de abril (batizado com a data do massacre), a hidrelétrica de Tucuruí (a maior do País, fora Itaipu) e os mal-indenizados que perderam as casas e os peixes com a criação da barragem.
Dentro da cabeça, os elementos eram esses. Fora, os de uma Amazônia que não existe mais. Ou melhor, do que resta - e vai restar - do que um dia foi uma floresta conhecida por castanheiras que vivem, se deixarem, mais de 500 anos.
A lista do que vi da janela:
- "Madeireira Nova Esperança", intrigante nome de uma das incontáveis madeireiras na beira da estrada.
- pilhas e pilhas de troncos de árvores amontoados, jogados no mato baixo.
- infinitos pastos meio selvagens com capim alto, um ou outro boi, uma ou nenhuma árvore.
- muitos fornos de carvoarias (onde se queima madeira pra abastecer siderúrgicas).
- plantações de eucalipto (mais madeira e mais rápido onde a original já virou carvão).
- placas do "Banco da Amazônia" propagandeando financiamentos a cada porta de fazenda.
- fios de alta tensão acompanhando a estrada (energia gerada em Tucuruí indo servir o Brasil).
- urubus sobrevoando um lixão. Essa cena, só uma vez.
Todas as outras, muito mais vezes do que pareceria razoável.
Mata virgem? Floresta? Araras vermelhas? Só no livro do Araquém Alcântara, na livraria chique mais perto de você.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
anotações de viagem
Postado por Phydia de Athayde às 11:05
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Li a matéria na revista. Muito bom ler sobre os bastidores.
E o MST, campesina e cumpanheros fariam diferente ?
Caro Anônimo, comece lendo "O mundo não é uma mercadoria". Talvez você perceba que há maneiras diferentes de construir o mundo.
Postar um comentário